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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pintando uma cidade atemporal à meia-noite

Nota: Não recomendo a leitura desse post aos que ainda não conhecem a história do filme.

Cartaz de Meia-Noite em Paris
  










 "The job of the artist is not to succumb to despair, but to find an antidote for the emptiness of existence."
(O trabalho do artista não é sucumbir ao desespero, mas encontrar um antídoto ao vazio da existência)
 

            Sem dúvida alguma, seria um absurdo não escrever aqui no Violeta sobre o filme que me encantou de tal maneira que fui ao cinema assisti-lo três vezes, sendo que a cada vez a obra tornou-se ainda mais brilhante aos meus olhos. Meia-Noite em Paris, o mais recente filme de Woody Allen, mergulhou-me em um sonho do qual foi difícil despertar.
            Logo de início, Woody Allen nos apresenta uma sequência de imagens que percorrem a cidade dia e noite, desde grandes monumentos a quiosques e esquinas, como uma única pintura capaz de retratar Paris em todo o seu esplendor. Esses primeiros minutos são de tirar o fôlego e introduzem a visão do protagonista, Gil Pender, um jovem roteirista de Hollywood cujo maior sonho é escrever um romance.
            Visitando a cidade com sua noiva Inez, que não compartilha de seu entusiasmo pelas ruas parisienses sob a chuva, Gil pretende viver Paris intensamente, para conhecer a cidade que nos anos 20 abrigou e encantou seus grandes ídolos, como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. Para isso, no entanto, precisa fugir da companhia um tanto indesejável de Paul e Carol, casal amigo de Inez que os acompanha em todas as visitas turísticas por Paris.
Então, durante uma caminhada noturna pela cidade, enquanto sua noiva está dançando com os amigos, o jovem aspirante a escritor encontra um carro antigo repleto de curiosas figuras que o convidam a aproveitar a noite parisiense. Ao entrar no carro, Gil Pender inicia sua verdadeira viagem. No momento seguinte, está sentado em um bar conversando com o próprio Hemingway, que levará seu romance ainda em construção para a análise de Gertrude Stein.  
Dessa maneira, Allen nos conduz por uma viagem repleta de personagens fascinantes que marcaram o passado e captura com primor os trejeitos desses grandes nomes da nossa História. Hemingway (Corey Stoll), F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston), Zelda Fitzgerald (Alison Pill), Cole Porter (Yves Heck) e Gertrude Stein (Kathy Bates), interpretados de forma singular, marcam então a jornada de amadurecimento literário e pessoal do protagonista (Owen Wilson).
Woddy Allen cria ainda personagens hilários e universais, como a família de Inez (através dos quais Allen consegue atacar com seu humor aguçado a sociedade norte-americana e o Tea Party) e Paul (Michael Sheen), o inesquecível pedante. Marion Cotillard, interpretando a jovem Adriana, está magnífica. A interpretação de Dalí por Adrien Brody também é imperdível e consiste em um dos melhores momentos do filme.
Assim, utilizando-se de personagens instigantes, Woody Allen retrata e questiona a nostalgia e a grande admiração que sentimos pelo passado, tratando ainda de temas como a arte, a vida e a morte. Em um momento do filme, ao admirar Paris, Gil diz que nenhuma obra de arte é capaz de comparar-se a uma grande cidade (“No work of art can compare to a city”). Bom, talvez não. Mas devo dizer que, para mim, Meia-Noite em Paris é tão belo, fascinante e encantador como a própria Paris.
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