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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Lágrimas do Vazio

         Era desejado por todas as mulheres da cidade. Um grande partido, como elas mesmas diziam. Sorria por todas as esquinas, inúmeros acompanhantes à sua volta. De terno, elegante, passeava por entre as lojas, arrancando suspiros das moças transeuntes. Em seu trabalho, ocupava o mais alto dos cargos, ambição de sua vida. Viajara por inúmeros países, conhecera donos de grandes empresas internacionais. Fora convidado para jantares e festas extravagantes de pessoas que conhecia apenas o nome. Vivera diversos relacionamentos com as mulheres mais bonitas de seu círculo social. Possuía as últimas e mais caras novidades do universo tecnológico e automobilístico.
         No entanto, faltava-lhe alma.
         E por isso, à noite, sozinho em seu quarto, consolado apenas pelo álcool, chorava silenciosamente.

         Chorava porque lhe faltava paixão
         Em sua visão, em seu tato, em seu sorriso.
         Faltava-lhe a admiração por coisas pequenas,
         Por um abraço carinhoso, pela inocência das crianças,
         Ou até mesmo pelo azul límpido do céu.
         Chorava por nunca ter vivido um amor sincero,
         Por nunca ter sentido lágrimas de alegria correrem por seu rosto,
         Por nunca ter vivido a música em seu coração.

         Mas estes motivos não conhecia,
         Chorava apenas.
         E esta era sua maior agonia.

Sofia S. Botelho

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