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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Uma dupla visita ao passado - Impressões sobre Orgulho e Preconceito 1940

Greer Garson e Laurence Olivier em Orgulho e Preconceito (1940)

        Há alguns dias, um querido tio, conhecendo a paixão que tenho pelas obras da escritora inglesa Jane Austen, presenteou-me com o filme Orgulho e Preconceito de 1940, estrelado por Greer Garson e Laurence Olivier. Curiosa, já assisti ao filme e gostaria de registrar aqui no Violeta algumas de minhas impressões.
        No entanto, antes de começar a discorrer sobre o filme  em si, acredito que seja importante acrescentar o seguinte: penso que, para que a adaptação para o cinema seja fiel à obra original, o principal fator que deve estar presente é a essência das personagens e do enredo que proporcionará o desenvolvimento dessas personagens. Dessa maneira, apesar de ser uma leitora ávida das obras de Jane Austen, não haverá aqui as reclamações fervorosas que são comuns aos fãs apaixonados. Mas certamente haverá críticas. Com esse pensamento em mente, falo agora sobre o filme em questão.
        Logo na primeira cena em que somos introduzidos, com uma vista graciosa da vila de Meryton, a Sra. Bennet e às suas filhas mais velhas, notei que o roteiro tomaria certas liberdades com a sequência dos eventos. Para mim, isso de forma alguma desqualifica uma adaptação - penso que as alterações são inclusive necessárias para que se mantenha a  unidade do trabalho de acordo com a obra original. Afinal, cinema e literatura são linguagens diferentes.      
As irmãs Bennet
        A produção do filme é glamorosa.  Adoro assistir  a filmes produzidos nesse período, há algo neles que simplesmente me encanta. Entretanto, em minhas passagens por comentários e resenhas, notei que a maioria das críticas sobre esse filme estão relacionadas ao figurino (aparentemente, reaproveitaram o figurino de outra produção). Confesso que, tendo assistido a outras adaptações de romances de Jane Austen e estando habituada ao figurino correspondente da época, os trajes dos personagens me incomodaram, afinal, houve um total descompasso entre o figurino e o período histórico. Acredito que isso ficou explícito, mas também não descarto o fato de que, por ter visto tantas adaptações de histórias desse período, o estranhamento possa ter sido maior em mim. Todavia, os vestidos de mangas bufantes não conseguem ofuscar o brilho da produção.
       De certa forma, acredito que o ouro dessa adaptação encontra-se na atuação de seus atores. Greer Garson sem dúvida alguma foi uma excelente Elizabeth Bennet. Ela demonstra possuir grande segurança, facilmente tomando conta da tela. Acredito que há verdade em sua atuação e ela consegue transmitir a força, as virtudes, o sarcasmo e  os defeitos da personagem com primor. A Sra. Bennet e seu marido são simplesmente hilários e é impossível não se derramar em risadas em seus diálogos. Também gostei muito das irmãs de Elizabeth, todas conseguiram captar muito bem suas personagens (gostei especialmente da  Mary nessa adaptação).   Enfim, de maneira geral, todos os atores fazem uma grande homenagem à obra de Jane Austen.
        No entanto, devo confessar que Laurence Olivier não atendeu totalmente às minhas expectativas como Sr. Darcy durante a primeira metade do filme. Acredito que ele ficou muito "solto" no início, demasiado cortês  e gentil para o Darcy reservado, arrogante e  tímido que faz com que todos  do vilarejo  (e os leitores/espectadores da obra) o vejam como um homem detestável e orgulhoso. Assim, não senti no filme aquela mudança em Darcy que tanto nos impressiona ao lermos o livro. Devo acrescentar também que não gostei muito das ações da Lady Catharine no encerramento do filme – nesse caso, acredito que a alteração causou uma mudança na motivação da personagem em questão, o que afeta diretamente a crítica social que Austen apresenta no do retrato dessa personagem.
        Claramente a intenção dos responsáveis pelo filme foi produzir uma comédia (como vemos até mesmo no cartaz). Observando isso, a qualidade dessa produção é indiscutível. Certamente, todos os atores, cenários, produtores e responsáveis pelo filme conseguiram criar uma excelente reprodução do universo de Jane Austen. Sabemos que há falhas. Entretanto, não devemos deixar de assistir a essa produção que, de maneira tão glamorosa, nos enche de prazer e  produz momentos de risadas incessantes com  os personagens que, há duzentos anos, permeiam os cenários de uma das obras mais aclamadas da literatura inglesa. Afinal, poucas coisas superam o prazer de observar a animada Sra Bennet disputando corrida de carruagem com Lady Lucas para transmitir primeiro a seu marido a notícia que pode afetar drasticamente o futuro de suas filhas.
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